Interview for Plato Gallery

Matilde Travassos (Lisboa) explores themes of the origins of life and the search for the divine in her photography. She uses the tarot as a tool to guide her work and to connect with the souls of her subjects. As she continues to create, she seeks to find a meaning and purpose for her work that goes beyond the mere capturing of images, and to define herself as an artist who can use photography to reveal the deeper truths of the human experience.


Using the title of your book "Un Esprit Méthodique" as a reference, how does this reflect your research and work process? My work results from years of meticulous research and in-depth experience searching for the beautiful and, perhaps, the divine. The methodical spirit I apply in all my creations reflects an intrinsic obsession with discovering answers about the world. This process of investigation and creation is driven by an unwavering passion to uncover and understand the nuances of existence and aesthetics.


What themes are crucial to your work, and which ones are concerning to you? The themes that truly interest me are deeply linked to the meaning of life and death. To find answers to these essential questions, I delve into the field of science and nature. I am thorough and dedicated in my search, carefully examining each discovery. Through this approach, I aim to comprehend the unseen forces and unveil the beauty and profundity that define the cycle of existence and renewal. Somehow, religions and the occult are also intertwined in the results of this research.


What changes in photography when you transition from a more commercial approach to one that is more research-based?  The only changes are the client's demands. There are many elements of the commercial side I end up incorporating into my other work. In architecture, for example, I try to bring an aura to spaces that are often inhospitable, and this aura passes between both fields.


What image of yours would you choose to summarize your career as an artist and photographer? I would choose the image of the Geology Museum in Lisbon, as it summarizes several points of my work. The museum interior is a space for preserving and studying, reflecting my interest in history and science. The map, which simultaneously resembles a painting, symbolizes the intersection between art and knowledge, capturing the complexity and beauty of the natural world. This image encapsulates the essence of my work: the union of the scientific and the aesthetic, the rational and the spiritual.


Finally, what are you currently working on? I have several projects running simultaneously. One is more focused on science, while another is extremely spiritual: The first project is about the Hospital de Santa Cruz in Lisbon, where I had three heart surgeries. This project is an intimate reflection on my own life experience. The other project focuses on a convent in the interior of Portugal, being a deeply spiritual and challenging work to complete. This work involves an introspective search and exploration of the religious and cultural traditions that shape that space. I also work on other projects with my artist friends. For me, it is essential to maintain these collaborations and exchanges with other artists. Although my work is often solitary, working and thinking together with others significantly enriches my work. Every collaboration serves as a source of inspiration and contributes to ongoing growth.












Revista Gerador Biblioteca Nacional

Natural de Lisboa, Matilde Travassos é uma fotógrafa apaixonada cuja jornada artística a levou a explorar diferentes perspetivas visuais e conceituais pela Europa, tendo iniciado a sua jornada após o mestrado na renomada Speos Paris. Este marco impulsionou a sua carreira e ajudou-a a desenvolver um compromisso com a expressão visual e a narrativa através das lentes.

Vivendo em Londres, teve a oportunidade de imergir profissionalmente na Spring Studios, onde pôde colaborar com alguns dos fotógrafos mais talentosos da capital britânica.

Com um olhar atento e uma sensibilidade artística, Matilde Travassos continua a desafiar os limites da fotografia, explorando novas técnicas e abordagens para traduzir a sua visão pessoal em imagens que inspiram, provocam e encantam.

De volta a Portugal, tem utilizado a câmara como ferramenta para extrair verdades essenciais dos objetos que fotografa. Por conta disto, foi convidada para fazer apresentar os seus trabalhos nesta edição. Aproveitamos para conversar com a fotógrafa sobre as suas inspirações.


Depois de ter vivido em Portugal, França e Reino Unido como caracteriza a sua visão sobre as verdades que tenta captar através das lentes?

A intuição é a minha única verdade. Talvez a minha experiência no mundo da moda, na França e no Reino Unido, me tenha dado uma capacidade de decisão rápida daquilo que funciona, ou não, para mim. E essa tem sido a minha bússola enquanto fotógrafa: a procura de objetos, lugares ou pessoas que me suscitem interesse.

Como é que o seu trabalho fotográfico está relacionado com a arquitetura e com a museologia?

Na arquitetura e na museologia, áreas sobre as quais me tenho debruçado mais recentemente, encontrei um terreno fértil que conjuga simbolismo e subtileza estética. Talvez por serem lugares cuja conceção está, à partida, intimamente ligada com o cuidado visual e estrutural, eu me tenha sentido inclinada a procurá-los.

Por que razão escolheu fotografar a Biblioteca Nacional para esta edição da Revista Gerador?

A Biblioteca Nacional foi sempre um destes espaços que, intuitivamente, me encantou, não sei se pela sua austeridade, se pelas histórias que contém.

Acredita que uma sinopse pode interferir na forma como as pessoas consomem, interpretam ou absorvem as suas obras fotográficas?

Diria que é extremamente importante notar que, em última instância, a interpretação de qualquer obra é subjetiva e pessoal. E por isso mesmo, sim, acredito que uma sinopse pode interferir. O contexto que o fotógrafo propõe pode alterar totalmente a perspetiva com que várias pessoas sentem e julgam as imagens. A mesma fotografia pode chocar, num determinado contexto, ou passar totalmente despercebida noutro. Vem-me à mente a Sophie Calle, cujos trabalhos são genialmente amplificados pelas suas deambulações autobiográficas e contextuais.

Revista Visão

“Un Esprit Méthodique”: A exposição fotográfica de Matilde Travassos é um convite à contemplação



Da fotografia de moda, Matilde Travassos passou ao analógico e ao trabalho de autor, em 2018. Cinco anos depois, apresenta "Un Esprit Méthodique", um verdadeiro elogio à “espera”, que procura dar resposta a algumas das questões mais fundamentais da existência humana 



O que têm em comum fotografias de miniaturas de planetas, areia vulcânica dos Açores, um cavalo preto, uma ecografia, uma rocha exposta no Museu de História Natural de Lisboa, um feto exposto no Museu da Anatomia de Basileia ou o gigante projetor do Planetário Calouste Gulbenkian? São, simultaneamente, pergunta e resposta ao mistério da existência humana, segundo a lente de Matilde Travassos. 

Operada várias vezes ao coração ao longo da vida, a fotógrafa sempre viu a ciência como a sua religião, “a razão de ainda estar aqui”. E até estar à espera do primeiro filho, em 2019, “nunca tinha sequer colocado certas perguntas ou pensado se haveria mais alguma coisa”.

Porém, quando engravidou, Matilde sentiu a necessidade de perceber o que era isso do mistério da vida. “Não só por mim, mas para lhe poder contar quando ele nascesse”.

Ao longo de nove meses, fotografou objetos, animais, museus e parques naturais da Europa, empreendendo algo que poderia ser visto como uma grand tour da idade adulta. Mais do que belezas criadas pelo ser humano, analisou a relação entre matéria e espírito e procurou respostas, encontrando, muitas vezes, ainda mais perguntas. 

As imagens, captadas através da lente de uma Hasselblad médio formato, e agora exibidas no Poolside Hub, em Alvalade, parecem quase pinturas. “Interessa-me muito esta relação com a pintura e o tempo que implica fotografar em analógico”, conta a fotógrafa que tem um passado, nas palavras da própria, “frenético”, no mundo da fotografia de moda.

“Em moda temos de ser muito rápidos a fazer tudo, desde fotografar a escolher as imagens e editá-las. Em 2018, decidi parar um ano e dedicar-me ao trabalho de autor e, através do negativo, consegui acalmar-me”.

Tal como terra em pousio, a coragem de abrandar deu frutos. Un Esprit Méthodique, com curadoria de Zé Ortigão e João Sarmento SJ, retrata de forma quase majestosa o silêncio com o qual o universo responde às perguntas das almas inquietas.

Afinal de onde vimos e para onde vamos? Porque razão viemos e porque é que temos de partir? Estaremos sozinhos? Conseguirá a ciência explicar a consciência? E o amor? Somos feitos de pó de estrelas, mas será que pertencemos ao infinito? O que é o infinito?

Na procura de repostas, Matilde Travassos acabou por captar imagens que, com uma beleza serena, levantam perguntas e convidam à contemplação.

Revista Visão

Matilde Travassos e Manuel Tainha: “Portugal não é só Lisboa, é importante descentralizar a cultura”





Os dois artistas inauguram "Abalo" em Évora. A exposição de pintura, escultura e fotografia reflete sobre o valor incomensurável dos momentos únicos, ao longo da vida e no processo criativo 



Três fotografias, duas pinturas, duas esculturas. O silêncio é cortado apenas pelo som de pedaços de madeira a estalar sob o peso dos passos de quem entra e se aproxima de uma fotografia que retrata uma cirurgia ao coração. Coração aberto, coração em chamas, coração vivo e morto ao mesmo tempo, coração nas mãos, de quem opera, de quem é operado, de quem espera para saber se fará luto ou festa. 

Perante a obra, carregada de cor, de sangue, de vida, torna-se quase impossível não pensar também na morte, no facto de esta se encontrar já presente em todas as coisas nas quais os seus dedos ainda não tocaram. E é esta consciência, que molda a forma de viver de quem a tem, que Abalo, exposição da fotógrafa Matilde Travassos e do artista plático Manuel Tainha, celebra.

Os artistas procuraram criar um memento mori constante de uma morte que é perda, não necessariamente da vida biológica, mas de uma parte de si mesmo. A morte enquanto fim de um ciclo, sucedido de um inevitável período de luto, durante o qual cada um trava as lutas necessárias para atingir uma espécie de ressurreição indispensável a todos os que querem seguir vivos na vida.
Cada ressurreição é única, irrepetível, profundamente relacionada com a causa de cada uma das pequenas mortes que, fazendo de nós mais humanos, simultaneamente revelam-nos forças sobre-humanas que tantas vezes nem sabíamos ter. 

O caráter irreplicável, quase sagrado, de um momento fugaz, mas intenso, bem como “a tentativa constante de congelar processos intermédios” e “agarrar a ideia da memória, revivê-la”, encontram-se espelhados nas obras de Manuel Tainha.

Por exemplo, a escultura Figura 5 ilustra o exato instante no qual o alumínio reage ao fracasso da extrusão, um processo de transformação da forma a quente e a elevada pressão. Na pintura Perséfone, tirando partido da aleatoriedade com que o pigmento cai, o artista representa o processo de secagem, momento que, por norma, a pintura não consegue fixar.

Já Matilde Travassos, ao “meditar sobre a morte”, criou fotografias que dão corpo às duas maneiras primordiais de encarar a questão. A imagem de uma carpideira de Portalegre mostra a dor, o choro, a perda, o sofrimento e o luto de quem fica, enquanto que uma serpente morta no chão ou o registo de uma operação ao coração dão forma ao medo do perigo, que levou a fotógrafa a viver a vida “correndo menos riscos, mas de uma maneira mais presente do que no passado, aproveitando cada momento”.

Ambos os artistas, que acreditam que “a energia dos sítios é essencial para criar exposições”, defendem que Abalo “só faria sentido em Évora”, cidade que a acolhe, sublinhando o facto de Portugal “não ser só Lisboa” e enfatizando a importância da descentralização da cultura.

Em Évora, Manuel e Matilde encontraram não só inspiração artística, da Capela dos Ossos ao Cromeleque dos Almendres, mas também a Galeria Plato. No espaço dirigido por Diogo Ramalho, as esculturas, pinturas e fotografias de Matilde e Manuel abrem espaço a um diálogo silencioso e delicado entre o observador e a sua própria vida.

Defronte a uma tela destinada a modificar-se ao longo dos anos ou à imagem de um coração aberto, percebemos que, na tentativa de evitarmos a morte, acabamos, tantas vezes, por nos limitarmos a resistir à vida. A eternidade não pertence a qualquer tempo ou espaço, a nenhum objeto ou pessoa, logo, não a possuímos nem a perderemos, fazemos já parte dela.



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